Dentro de uma sociedade que sobrevive da repressão sexual, da imposição de valores castos, de uma inibição em forma de tabu acerca da sexualidade e de uma moral voltada para a reprodução e manutenção da família patriarcal monogâmica, a mídia tanto se vale desse recalque sexual da sociedade para lucrar em cima da exploração dos corpos femininos, quanto para reproduzir os valores machistas e sexistas que alimentam essa sociedade sexualmente repressora. Não a toa que, dia-a-dia, nos mais diversos programas, a ditadura da beleza é exposta: seja nos ‘reality shows’, nos programas de auditório, nas novelas, nos programas de fofoca e até nas reportagens de telejornais. Em uma parceria inescrupulosa com as indústrias de cosméticos e com a medicina da beleza.
Na mesma medida que essa exploração gera lucros milionários para esses empresários, reproduz a ideologia de que à mulher não pertence o seu corpo, expropria-se da mulher o seu corpo enquanto totalidade e o seu ser enquanto sujeito e a transformam em partes-objetos a serem degustados: uma bunda, um seio, uma vagina, uma boca, uma coxa, um rebolado, etc. Ao mesmo tempo, a mulher perde todo o seu direito de determinação e se torna a eterna Eva de sua desgraça. A mulher, vítima dessa serpente que é o capitalismo – onde alguns poucos empresários burgueses lucram com a apropriação e exploração sexual do corpo feminino – terminam por serem culpadas do abuso que sofrem, na medida que, nessa empreitada lucrativa, esses mesmos empresário burgueses reproduzem a ideologia opressora machista que permite a continuidade dessa exploração! É hora de transmutarmos essa culpa para os veículos da mídia e as indústrias de cosméticos e da ditadura da beleza que nos exibem como objetos e se valem da nossa utilização enquanto corpos violáveis e disponíveis para lucrarem milhões!
Milhares de mulheres já sofreram abusos sexuais. Muitas na infância, pelo pai, padrasto, tios, parentes próximos ou amigos de familiares. A imposição de uma “ditadura da beleza” é parte do nicho de mercado desses grandes monopólios de comunicações e industrias e é alimentado por estes no ideário de um padrão de beleza pautado na juventude eterna regrada à muitas plásticas, cirurgias e cosméticos, bem como na coisificação da mulher desde a sua mais tenra infância, transformando uma menina em uma mulher, não uma mulher-sujeito, mas desde pequena em uma mulher-objeto.
Além da lucratividade, essa prática gera a reprodução ideológica da própria estrutura social construída na base da moral repressora sexual, que além de criarem mulheres para serem frágeis e submissas, criam homens para serem brutos e violentos que só são capazes de garantir sua satisfação sexual na base da força e da possessão do corpo feminino, aqueles que não conseguem cumprir com sua “obrigação social” de possuir uma mulher se sentem no direito de utilizar da sua força física ou de aproveitar determinada situação (quando a mulher está desorientada ou desacordada, seja pelo álcool, seja pela indução de substancias adicionadas sem seu consentimento, conhecidas como o “boa noite cinderela”) ou relação de poder (como abusos de crianças e adolescentes em geral por parte de familiares) para garantir a sua satisfação sexual.
Enfrentar a gigante Globo, as indústrias da beleza e as demais mídias não é tarefa fácil, ainda mais quando esse enfrentamento representa um combate aos pilares que sustentam a manutenção desse sistema social. Não nos espantaria se Monique viesse a público afirmar que foi um ato consentido. Assim como a maioria das mulheres violentadas terminam obrigadas a regressarem de volta às suas casas, caladas, amedrontadas e desmoralizadas.
A luta contra o machismo que é perpetrado diariamente em nossas vidas, desde que nascemos, pela família, pela escola, pela igreja e pela mídia tem que se enfrentar contra a moral sexual que constrói ideologicamente os sujeitos e suas relações. Essa moral propagada e reproduzida, porém, é fruto das necessidades econômicas da sociedade, e hoje, ela emana das bases da sociedade capitalista. Combater seriamente o machismo, o sexismo e a homofobia não é tarefa fácil exatamente porque significa combater tanto o sistema capitalista de produção quanto a sua reprodução moral e de valores.
Nesse sentido não podemos esperar nada dos governos para além de promessas e barganhas de direitos pontuais em troca de acordos políticos. Demonstração disso foi a tímida manifestação da Ministra petista Iriny Lopes, da Secretaria de Políticas para as Mulheres que solicitou ao Ministério Público Estadual do Rio de Janeiro que apurasse o caso, enquanto isso, milhares de mulheres continuam sendo abusadas sexualmente e o governo nada faz para atacar o cerne da reprodução dessa lógica social, muito pelo contrário, mantém sua posição contra os mais democráticos direitos da mulher como a legalização ao aborto ou a educação sexual nas escolas em favor do Acordo Brasil-Vaticano pelo ensino religioso! Segundo o jornal O Dia, a polícia foi até o Projac na tarde do dia 16/01 colher depoimento da vítima e do agressor, sendo à noite anunciada por Bial a saída de Daniel por “infringir as regras do programa”. Desde quando a rede Globo possui foro privilegiado? Estupro é crime e devem ser punidos, não somente o Daniel, como a rede Globo, o apresentador, a produção e a direção do programa BBB12 que poderiam ter impedido e não o fizeram, se omitiram, foram coniventes e ainda tentaram transformar o estupro em uma “ linda cena de amor!”
Fonte: Blog juventude nas ruas
Fonte: Blog juventude nas ruas
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